«A gente chega ao fim, que é quando já não tem embalagem para haver mais futuro, e então senta-se. Estou sentado. Olho à volta, da frente para trás, que já não há mais frente para olhar. (…) As coisas aconteceram, fazem-se acontecer outra vez. Sobretudo o que valeu a pena e nos pôs um pouco de contentamento na alma. Purificar as coisas das chatices que também lá estão. Ou lembrá-las também a elas mas pôr-lhes à volta uma moldura de desculpa ternurenta. Um dia pensei: quando deu na bolha a Deus para criar isto por desfastio, soube a palavra para o efeito. E então eu digo – deve haver uma palavra sagrada para tudo, a questão é saber onde é que está. Mesmo o que é chato ou feio ou podre, se a gente souber a palavra certa deve ficar belo à mesma.»
Vergílio Ferreira, Em Nome da Terra
s/título, 2017 | Fotografia digital (9), 20 x 15 cm (cada)